22 setembro 2005

Tem mesmo de haver paciência

Ontem, num pasquim desportivo, por acaso conotado com o clube do senhor Peseiro, foi publicada a seguinte crónica assinada por um indíviduo que, a julgar pelo aspecto, no mínimo necessita de um intervenção imediata do "Esquadrão G" (esta piada gratuita foi inteiramente merecida). E então reza assim:

Haja paciência

Há que entender que este Vitória de Setúbal joga para
não descer. Não pode querer mais...

Norton de Matos saiu e bem em defesa do plantel. Isto numa altura em que o campeonato está no início e já começam a vislumbrar-se alguns incumprimentos. O presidente Chumbita Nunes, enquanto confirmava as dificuldades do clube, tentava despedir o treinador por dizer a verdade. Numa terra tradicionalmente de esquerda a atitude dificilmente cairia bem. A liberdade de expressão tem de valer mais. Principalmente quando acompanhada de sete pontos conseguidos com uma equipa construída na loja dos 300. Pelos vistos, ainda assim difícil de pagar.

Mas o calendário não é fácil. Agora seguem-se Sporting e Sampdoria. E o jogo com leirienses não foi adiado. Resultados negativos ditarão nova espada sobre a cabeça do técnico? Mais triste do que querer parecer aquilo que não se é, é não ter a noção das limitações. Este Vitória de Setúbal joga para não descer, não pode ambicionar a mais. E os jogadores contratados poderão evoluir muito com Norton de Matos ao leme. Mas é preciso tempo e paciência. E ter as contas em dia.


Façamos uma análise cuidada (preparem-se para ataques gratuitos e fáceis, mas o homem merece). Se descontarmos o subtítulo, a primeira frase peca logo quanto ao conteúdo e quanto à forma: quanto ao conteúdo pois é difícil crer que um treinador que envia recados à direcção sobre um assunto que esta tinha discutido previamente com o plantel esteja a tentar proteger seja o que fôr; quanto à forma é também duvidoso, pois será bom jornalismo escrever que "fulano tal saiu em defesa de não-sei-o-quê"? Saiu de onde, e para onde? Quando o jornalista diz que "saiu e bem" quer dizer que a passagem era larga, ou que o treinador tinha o corpo untado com vaselina? Dúvidas que me atormentam (primeiro ataque gratuito).

Mais à frente, depois de umas incursões filosóficas sobre o preço que se paga por se dizer a verdade, incursões essas que fariam qualquer sofista corar de vergonha, e de umas leves incursões pela matemática de mercearia (se no início de campeonato já levam 10 dias!!!! de atraso, como não será no fim - uma básica regra de três simples), insinua que a liberdade de expressão é um valor exclusivo da esquerda (camaradas da Républica Popular da China, da Coreia do Norte e de Cuba, atentai), acabando por dizer que, afinal, essa liberdade tem um preço (7 pontos em 4 jogos por cada equipa da loja dos 300). Giro, giro, era se, só para vender mais 7 pasquins desportivos por cada 4 quiosques, o tal jornalista escrevesse nas suas crónicas que tinha 10 dias de salários em atraso (segundo ataque gratuito).


No parágrafo seguinte (oh misericórdia) cai o pano e é enfim revelada a verdadeira pedra de toque de todo o artigo. Reparem: "o calendário não é fácil. Agora seguem-se Sporting e Sampdoria". Ahah! Pois é, já nos iamos esquecendo disso, tal a azáfama em redor dos 10 dias de atraso (e eu a pensar que só as mulheres se preocupavam com um atraso de 10 dias), que nem nos lembravamos do jogo com a equipa do Sr. Peseiro! E por falar em Sr. Peseiro, seguem-se três frases que vão direitinhas para o treinador do Sporting, duas de aviso: "Resultados negativos ditarão nova espada sobre a cabeça do técnico? Mais triste do que querer parecer aquilo que não se é, é não ter a noção das limitações."; e uma de motivação:"Este Vitória de Setúbal joga para não descer, não pode ambicionar a mais." Percebeste Peseiro, não basta massacrar, tens de ganhar jogos, e aproveita agora que o adversário é fraquinho, e já foi desmoralizado com o caso Norton de Matos.

Pode ser que se lixem!

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